domingo, fevereiro 04, 2007

Um domingo de esplanada...

Finalmente um dia de sol, embora o frio tenha-se feito mostrar. O que se previa um domingo fechado em casa a avaliar relatórios de forma pouco eficaz, tornou-se num simpático e diferente dia de trabalho. Após telefonema para dar uma volta até à Costa da Caparica, ficar sentado numa esplanada a beber qualquer coisa quente e pôr algum trabalho em dia, foi um desafio irrecusável. Costa da Caparica aí fomos nós: a minha companhia, colega de trabalho (fêmea) levava um chorrilho de revistas de decoração – e qual delas a melhor – eu lá levei uma pasta com três relatórios para avaliar…
Desafio: encontrar uma esplanada de praia que estivesse aberta…corremos as praias todas, na esperança de encontrar um espaço agradável para aí permanecermos. Tudo fechado!! As praias até tinham muita gente de passeio, mas as esplanadas todas fechadas!...que desperdício!
Aproximamo-nos da Praia da Bela Vista….sim essa!!!... Para nosso espanto, avistámos ao longe o parqueamento cheio! A minha amiga diz: “Esta tem de estar aberta, com tantos carros!...” Eu pensei cá para comigo “Burra!…não fazes mesmo ideia…”
Aproximámo-nos e para surpresa da minha colega – e não minha! – os carros tinham os seu ocupantes dentro, e vá se lá adivinhar….todos do sexo masculino…
Depressa senti aquele friozinho pela espinha, acompanhado da excitação, que já tinha esquecido, do engate…fiquei taquicárdico por estar ali. Recordei os tempos de loucura em que com um amigo meu brincávamos com isso: corríamos os locais de engate todos, fingíamos que estávamos interessados e depois fugíamos. O fascínio pelo abismo levava-nos a esses locais, mas o medo de um futuro incerto excedia esse frenesim.
Portanto, nunca fui de engates fortuitos, mas conhecia os locais principais de engate e aquele claro que o conhecia, mas fazia anos que lá não punha os pés. Aliás, a última vez que fui à Praia 19, deve ter sido há uns cinco anos.
Ora estavam dentro dos carros, ora circulavam pelo estacionamento como quem não quer a coisa…Lembrei-me imediatamente do filme Cruising do William Friedkin com o Al Pacino, uma vez que havia um sujeito fora do carro, que nos fixou imediatamente, e que envergava um casaco e calças de cabedal – muito S&M – e ostentava um bigode tipo Big Bear, muito anos setenta…
Decidimos sair do carro, ao que ela diz “Olha isto tem um ambiente estranho, não tem?…” Claro que me fiz de desentendido e saí só para confirmar se a esplanada estava fechada, e estava. Regressei ao carro.
- “Vamos embora… só nos resta a Fonte da Telha!”
Lá fomos.
Passou-se uma tarde agradável, no meio de famílias com criancinhas aos gritos, gente sozinha acompanhada por livros, namorados adolescentes a trocar beijos entre lambidelas de gelados e a paisagem de um mar com alguns surfistas. Foi muito bom!
O Big Bear não me saiu da cabeça, não por uma atracão física, mas talvez pelo magnetismo do seu olhar.
O frio começou a sentir-se por volta das 17h00 e lá regressámos a nossas casas. Ela mais sapiente em decoração e eu, mais confuso nas minhas análises e avaliações…

12 comentários:

Anónimo disse...

Como tu, há muito deixei de frequentar lugares de engate, mas conheço-os quase todos, e não vejo que mal possam ter; só vai quem quer.
É necessário, hoje mais que nunca, é cuidado com as opções que se tomam, pois por vezes há surpresas desagradáveis, de onde menos se espera. Posso falar, porque me aconteceu 2 vezes.

Unknown disse...

Big Bear?? something says that I would like him! LOL
bem, o cruising deu-me pesadelos durante noites sem fim.
lugares de engate, a carne é uma tirana que exige sacrificios de tempos a tempos, e com isto não tento desculpabilizar qq comportamento!

Momentos disse...

É aflitivo a falta de olho para o negócio que o português tem. Nada se abre, fora de época. Perguntem aos espanhóis como se faz...

lampejo disse...

lol...
As vezes as mulheres ou são ingénuas ou querem se fazer passar por...

AEnima disse...

Sempre houve algo que me intrigou... como eh que sabes que a outra pessoa eh gay, es esta no "armario" ainda, e a desconhecemos pessoalmente? Alguns topam outros so de olhar, e nem sequer estava em situacoes claramente evidentes como a da praia... mas sim no meio da confusao da multidao "normal".

Tenho varios amigos gays que nunca se assumiram em publico mas sempre o assumiram para mim, porque eu lhes topava certas coisas... mas isso leva a que tenhas que conhecer, no minimo uma meia hora a pessoa, nao?

E o que me espanta nem eh isso... eh que, como frequento varios ambientes gays, nunca uma rapariga me confundiu com lesbica. As vezes recebo uns olhares de gays homens como se tivesse alguma "doenca"... de verdadeiro nojo por ser femea...

Anónimo disse...

Gostei do seu texto! :)
Neste noite de insónias...

Unknown disse...

aenima, n é em meia hora que se descobre que o outro tb é gay, mas sim nos primeiros cinco segundos... intuição, sexto sentido, qq coisa por aí, a forma como se olha e como o outro responde a esse olhar!

quanto á misogenia de certos gays, esses que se curem!

AEnima disse...

ja percebi isso serrano... as vejo ate fico com ciumes por nunca ser confundida! Caramba... nos gajas nao temos assim o olho tao treinado para os gajos hetero, para saber se ate sao tipos fixes ou vao ser altamente cabroes, ou mesmo, so descobrir se estao "disponiveis"... Enfim...

E explica-me, se puderes... porque o olhar de "nojo" para com uma rapariga hetero por parte da comunidade gay quando eu partilho do mesmo espaco/festa/convivio/ etc?

TD disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
TD disse...

aenima, sinceramente acho que aquilo a que se chama "gaydar" não é mais que um olhar,
(fora coisas obvias como roupas, aneis e certos tiques).
passo a explicar:
quando um gajo entra nalgum lado todos os gays fazem um "scan" inato e muitas vezes inconsciente desse gajo,
o gajo que entra, por sua vez também faz esse scan inconsciente dos gajos que la estao, basta um cruzar dos olhos e este cruzar durar mais um milisegundo que um gajo hetero faria e sabe-se..

claro que os gajos heteros também fazem este scan mas as gajas..e mesmo que olhem para o gajo a entrar nunca olharão o mesmo tempo que um gajo gay..

dcg disse...

Belo post!
E que saudades de uma esplanada em Lisboa...

Anónimo disse...

Td é isso tudo, o gay aprecia o gajo que entra na sala,dois olhares, foi porque se despertou a atenção,pelo bem ou pelo mal, 3 olhares com um leve sorriso.... o hetero apenas vê o gajo que entra na sala.