quinta-feira, outubro 26, 2006

Diz me o que vestes que eu dir-te-ei quem és…ou não?!

Ontem fui a uma das nossas famosas livrarias de Lisboa procurar por um livro que se encontra esgotado em Portugal Há muito tempo. Fiquei deliciado ao saber que o poderia ter daqui por dois meses…vindo do Brasil! Pois bem vou ler literatura cinetifica em português falado no brasil…legau…bacana…que vómito. Mas enfim é o que se pode arranjar.
No acto da encomenda a jovem que me atendeu pedi-me o meu telefone e obviamente o nome. “Manuel”.
A determinada altura esta jovem, após confirmar nas outras cidades do país a inexistência do livro, diz-me “Oh Manel…vai ter memo que esperar dois meses…”.
A minha parceira de trabalho que me acompanhava, Mariana, jovem de quarenta anos, muito dondoca, por sinal, mas muito minha amiga vira-se de costas para a jovem funcionária e diz em tom audível “Oh Manel?!... Oh Manel?!”. Inevitavelmente provocou um momento de embaraço nesta funcionária que não conseguiu esconder o rubor na sua face. Ficou perdida, não sabia como iria me dirigir novamente.
Apressei a conclusão da encomenda, e a minha amiga Mariana, que estava estremamente incomodada com este abuso de confiança fez-me uma dissertação da necessidade de se usar fato e gravata!!!!....
Como se o fato e gravata definisse o posicionamento sócio-cultural e económico de uma pessoa. “Assim manténs o respeito…” continuava ela. Qual respeito? Pergunto eu? Um homem é o que é, não pela roupa que enverga, mas sim pelas suas acções e forma de estar na vida.
Eu cá continuo a preferir as t-shirts, as swetshirts, as calças de ganga – quanto mais russas melhor - os tennis, embora reconheça que existem momentos e sacrifícios para tudo.
A conversa começou a azedar quando fiz referencia que pessoas como ela vestem para impressionar os outros…Tive que pôr ponto final a uma discussão estúpida provocada por uma atitude menos reflectida de uma funcionária de livraria, que não conhece as regras de etiqueta e de atendimento ao publico.
O que acontece é que o meu organismo rejeita gravatas…deve ser alguma coisa congénita!!!....

domingo, outubro 22, 2006

Apontamento musical...patrocinado pelo Banco Millenium...LOL

Ontem fui ao Pavilhão Atlântico assistir um espectáculo musical promovido pelo Banco Millenium. O pavilhão estava cheio de gente que, certamnete, não foi lá pelos artistas mas sim pelo facto de poderem assistir a um evento nesta sala de espectáculos com “comes e bebes incluidos” de borla…
A passividade de todos aqueles que estavam sentados era agoniante, ao passo que as pessoas que se encontravam de pé junto ao palco compensavam com alguma euforia.
Após ter levado quase duas horas para chegar ao Pavilhão Atlântico, com um transito estúpido e parques de estacionamento a abarrotar, finalmente cheguei quando os fabulosos Clã davam inicio à sua actuação. Obviamente que não assisti à Sara Tavares, o que não me incomodou muito. Os Clã eram o meu objectivo principal, e eventualmente o Rui Veloso.
Os Clã superaram toda e qualquer expectativa, levaram ao rubro todos aqueles que assistiam de pé com musicas como o "Sopro do Coração" e "Dançar na Corda Bamba" em que a Manuela Azevedo, vocalista, conseguiu de uma forma absolutamente fabulosa transmitir uma energia altamente contagiante. O melhor momento deles, a meu ver, foi com “Problema de Expressão” em que se ouvia em uníssono a letra desta espantosa musica por todo o pavilhão.
A seguir entrou o Rui Veloso que, embora tenha cantado algumas músicas, daquelas bem velhinhas que todos nós sabemos, conseguiu estragá-las todas com vocalizações que não lembravam à Ana Malhoa. Absolutamente triste! Abandonei o recinto após a quarta musica completamente desiludido. A idade devia trazer-lhe sabedoria, mas não. Estas improvisações e inovações vocais desvirtualizam a musica impedindo, até, de o publico o acompanhar. Utilizou da pior forma o seu potencial vocal.
Fora do recinto estavam umas mesas que serviam refrigerantes de marcas que nunca tinha visto, nem mesmo no Lidl. A comida…essa nem vê-la, ao contrário daquilo que se fazia acompanhar no convite ("Durante o Concerto será assegurado um serviço de buffet que se manterá até ao final" - onde?!?!?!). Mas enfim, muito bom para uma borla.
Pode ser que futuros bancos adoptem a ideia de fazer espectáculos destes e consigamos que a Caixa Geral de Depósitos siga a ideia e consiga reunir artistas como a Mónica Sintra, Ana Malhoa, a Ágata, Ruth Marlene, Emanuel, Quim Barreiros e todos aqueles que esta entidade tão bem representa…LOL
A seguir, jantar japonês, uma volta pela cidade molhada e uma vontade súbita de ir à casa de banho…eu sabia que não devia ter abusado daquele molho!...

Agora…Bom, bom foram os Clã. Aqui fica um problemazito de expressão…


Só pra dizer que te Amo,
Nem sempre encontro o melhor termo,
Nem sempre escolho o melhor modo.
Devia ser como no cinema,
A língua inglesa fica sempre bem
E nunca atraiçoa ninguém.
O teu mundo está tão perto do meu
E o que digo está tão longe,
Como o mar está do céu.
Só pra dizer que te Amo
Não sei porquê este embaraço
Que mais parece que só te estimo.
E até nos momentos em que digo que não quero
E o que sinto por ti são coisas confusas
E até parece que estou a mentir,
As palavras custam a sair,
Não digo o que estou a sentir,
Digo o contrário do que estou a sentir.
O teu mundo está tão perto do meu
E o que digo está tão longe,
Como o mar está do céu.
E é tão difícil dizer amor,
É bem melhor dizê-lo a cantar.
Por isso esta noite, fiz esta canção,
Para resolver o meu problema de expressão,
Pra ficar mais perto,
bem mais de perto.
Ficar mais perto, bem mais de perto.

sábado, outubro 21, 2006

Direitos iguais…há uns mais iguais que outros…


Tendo em consideração o post anterior e os respectivos comments, que de alguma forma me surpreenderam, prossigo com o mote das manifestações…
Se recordarmos há muito, muito tempo…e que na realidade não foi assim há tanto tempo, tendo em consideração a história universal do Homem, foi como se fosse ontem! A manifestação das mulheres pelo direito ao voto, ou seja pela igualdade de direitos. A Nova Zelândia foi o primeiro país do mundo a conceder o direito ao voto às mulheres no ano de 1893. Em Portugal em 1931 só é permitido à mulher votar, desde que esta fosse diplomada pelo ensino superiror ou secundário.

Já nos nossos tempos, se pegarmos na questão da igualdade de direitos e no artigo 13 (Princípio da igualdade) da Constituição da República Portuguesa VII Revisão Constitucional (2005), diz-nos que:
1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.

A minha questão é a seguinte: será que são da mesma natureza as prides gay e as manifestações das sufragistas do século passado? Será que reivindicam as duas à igualdade de direitos?
A mim parece-me – e podem crucificar-me se discordam comigo - que as prides gay visam marcar a diferença pelo ser diferente, recorrendo sempre ao estereotipo do gay efeminado e de muitas Priscilas.
Se ser-se gay é isso, então eu não sou gay!

terça-feira, outubro 17, 2006

Um almoço nauseante...

Hoje apanhei uma camada de nervos ao almoço…a quantidade de anormalidades que se dizem sobre os gays! E o mais revoltante é que quem profere determinadas coisas acredita piamente naquilo que diz como se fosse um perito em homossexualidade…
Tudo começou quando se falava de filmes e alguém teve a infeliz ideia de fazer referência ao Brokeback Mountain. Começou, então, uma discussão intelectual, cheia de pormenores sórdidos, sobre o amor gay e com referencia ás ultimas tendências (que eu desconhecia por completo!!!...), que consiste em que os gays não tomam banho por ser um fetiche o cheiro a suor e a transpiração!!! É impressionante como pessoas com uma diferenciação cultural e com responsabilidades sociais se dêem ao trabalho de inventar e disseminar coisas do género! Foi nauseante! Só me apeteceu saltar para cima da mesa e “sair do armário” e perguntar-lhes se tinham duvidas que eu tomasse banho! Mais uma vez opto pelo silêncio cobarde e mantenho o meu disfarce.
Mais uma vez a homossexualidade é associada a Carnavais gay como as prides, a desvios patológicos, ao travesti, à promiscuidade e a tudo que é pernicioso na nossa sociedade.
O meu silêncio, e o de outros, pode ser cobarde mas creio ser a única forma de sobrevivermos neste meio hostil.
Ás vezes penso que se existisse um interruptor em mim que me transformasse em hetero não sei se não carregava nele…
Contudo…SOU FELIZ COMO SOU!!!

sábado, outubro 14, 2006

Desporto motorizado…

Está a decorrer neste fim de semana, no domingo para ser mais preciso, no autódromo do Estoril, o Grande Prémio de Portugal. Portanto, muitas motas, muitas gajas e muitos gajos…Mais uma vez tenho um livre transito, para os três dias, o que me tem permitido fazer algumas incursões pelo paddock e lavar muito a vista…

Hoje ao passear por aquele aglomerado de gente, no paddock, que pede ostensivamente posters e postais do Rossi e do Biaggio, em camiões transformados em magníficos palácios, está uma mulher alta, esguia, de cabelos louros apanhados, lábios carnudos, pele clara, e esconde o olhar por detrás de uns óculos que lhe cobrem metade da cara. Tem vestido uns jeans apertados e um casaco de camurça castanho – LINDA!!! Nesse momento tive a sensação de conhecer essa mulher, olhei, desviei o olhar e voltei a olhar de forma ostensiva. Não queria acreditar…essa magnifica mulher é a Esther Cañadas! Uma das topmodels mundiais de nacionalidade espanhola, ali mesmo ao meu lado passando por incógnita. Ora, gajo que é gajo largava uma boca daquelas bem foleira tipo “És podre de boa!”, mas certamente ela não iria perceber…talvez se eu lhe dissesse “Eres podrida de buena!”, talvez percebesse a frase, no entanto não iria compreender um vocabulário impregnado de um referente cultural bem português - como é que podre pode ser bom?!


Ainda me cruzou o espírito de lhe dar uma valente palmada no rabo! Poderia depois dizer que já tinha apalpado o cú a uma famosa. Após uma reflexão rápida, achei melhor não…embora estivesse num meio altamente masculino – aparentemente, porque as bichas betas são mais que muitas – pensei que poderia ficar muito bem visto perante os motards, todos muito machos (?!), mas certamente haveria algum segurança que me iria pôr no olho da rua e eu iria ficar sem o meu livre transito – deste ano e dos futuros…

Enfim…hoje foi um dia muito bem passado no meio de gente gira (e famosa), muitos gajos, muitas motas e muitas mamas…as meninas do red bul são um espanto…ainda se eu gostasse…

PS – obrigado a todos que sentiram a minha ausência e se manifestaram…sim, porque há uns quantos, que têm vergonha de se mostrar, mas vêm aqui religiosamente! Hoje, estou particularmente muito bem disposto…será da minha bipolaridade?!?! Será que devo ficar preocupado?!? Beijos e abraços - cada um leva o que quiser! :)

terça-feira, outubro 10, 2006

Dia sem Sol...


A minha disposição hoje faz companhia ao dia: sem sol. O trânsito infernal, a impaciência dos condutores, o acordar cedo após uma noite mal dormida, o tomar decisões complicadas que comprometem projectos futuros - que variáveis fantásticas para se começar o dia...

Se a situação é boa, desfrute-a;
se a situação é ruim, transforme-a;
se a situação não pode ser transformada, transforme-se.

Viktor Frankl

...e depois lêm-se coisas do genero:
SCientists, the most religious people you'll ever meet

sábado, outubro 07, 2006

Não me mintas…

Mais uma discussão conjugal motivada pela mentira.

Essa tua inabilidade inata denuncia-te…não sabes mentir…não me mintas…
Sempre te aceitei, incondicionalmente, mesmo após as traições, que foram punhais que, sem aviso prévio, me atingiram os flancos. Morri e renasci por todas as vezes…não me mintas.
Não te prendo, amo-te demais para te prender e para te privar da tua vontade mas…não me mintas…nem precisas vir para casa, eu fico bem sozinho, não tenho medo da solidão. Não sejas piedoso com as mentiras que contas, o efeito é sempre contrário mas…não me mintas…
Eu nunca te disse que não compreendia as tuas motivações, os teus medos, e por perceber, não te prendo, mas…não me mintas.
Não quero ser a pessoa da sombra, quero continuar ao teu lado, como sempre estive, não quero ser o amante dos minutos contados…sim, sou egoísta, não te partilho com ninguém…por isso…não me mintas.
Se quiseres vai-te embora, vai viver uma mentira, vive a outra vida...cumpre os desígnios impostos pelos outros…mas não esperes por mim…porque se voltares eu já ter-te-ei esquecido…mas não me mintas.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Uma história com moral...


Uma mãe e um bebê camelo estavam por ali, à toa, quando de repente o bebê camelo perguntou:

- Mãe, mãe, posso te perguntar umas coisas?
- Claro! O que está incomodando o meu filhote?

- Por que os camelos têm corcova?
- Bem, meu filhinho, nos somos animais do deserto, precisamos das corcovas para reservar água e por isso mesmo somos conhecidos por sobreviver sem água.

- Certo, e por que nossas pernas são longas e nossas patas arredondadas?
- Filho, certamente elas são assim para permitir caminhar no deserto.Sabe, com essas pernas eu posso me movimentar pelo deserto melhor do que qualquer um! - disse a mãe, toda orgulhosa.

- Certo! Então, por que nossos cílios são tão longos? De vez em quando eles atrapalham minha visão.
- Meu filho! Esses cílios longos e grossos são como uma capa protetora para os olhos. Eles ajudam na proteção dos seus olhos quando atingidos pela areia e pelo vento do deserto! - disse a mãe com orgulho nos olhos.

- Tá. Então a corcova é para armazenar água enquanto cruzamos o deserto,as pernas para caminhar através do deserto e os cílios são para proteger meus olhos do deserto.... ENTÃO, QUE DIABOS ESTAMOS FAZENDO AQUI NO ZOOLÓGICO ?

Moral da história:
"Habilidade, conhecimento, capacidade e experiência são úteis se você estiver no lugar certo".

quarta-feira, outubro 04, 2006

Sedutoramente perigoso

Naquele instante eu não ouvia nada, na minha cabeça existia um silêncio ensurdecedor, fixava apenas os gestos que a sua boca fazia enquanto segredava junto da orelha de um colega. Era pouco mais novo que eu e tudo nele era calculado ao ínfimo pormenor: os cabelos despenteados e aparentemente descuidados, os jeans russos e rasgados, os chinelos que condiziam com algum adereço que trazia, ou seria o relógio da Swatch, ou seria os óculos de lentes coloridas. Nada estava ali por acaso.
Sentava-se sempre na primeira fila, fingia que escrevia notas, fingia que prestava atenção, uma vez ou outra colocava uma questão para dar a imagem de quem estava muito interessado no que se estava a falar. Era sempre o último a sair, fingia que tinha sempre muitas fotocópias para organizar, fitava-me pelo canto do olho e sorria.
O que quereria ele? Recordava as primeiras palavras do meu chefe “se prezas o que fazes, não te envolvas com alunas…”. “E os alunos?” - pensava eu?…
O ano terminou e nunca mais o vi…não sei se desistiu. Se o fez, ainda bem para mim…

segunda-feira, outubro 02, 2006

Amores revisitados...última parte

Passaram-se três dias e o telefone não tocou. O sentimento de vazio e a ansiedade foram-se instalando progressivamente. A espera por um telefonema que se previa que não iria ter lugar, a espera de um desfecho comum a tantos outros…
Tomei a iniciativa e liguei-lhe. Telefonemas uns atrás dos outros e nunca estava, ou melhor daria indicações do outro lado para dizer que não estava…Fiquei com a noção de ter perdido uma coisa minha e não havia nada que a pudesse substituir. Tudo à minha volta perdeu o interesse, nada tinha mais significado que ele. O seu sorriso atormentava os meus pensamentos. O fantasiar que ele pudesse estar com outra pessoa levava-me à loucura…
Após duas semanas de tentativas infrutíferas de falar com ele, lá me atendeu o telefone…
- Olá! Tudo bem…desapareceste? – perguntei envergonhado. As minhas pernas tremiam como se fosse pela primeira vez.
- Tenho estado muito ocupado, a peça tem exigido muito de mim…
- Eu queria muito falar contigo…
- A peça vai para o Porto daqui por três semanas, e tenho tido muitas coisas para tratar…
- Só um café! Preciso mesmo muito de falar contigo!

Era notório que o Filipe não queria estar comigo, a minha presença passou a ser um empecilho na vida dele. Ele deve ter percebido que de uma vez por todas teria que pôr um fim àquilo e acedeu encontrar-se comigo.
No dia seguinte, ás 11h30, lá estava eu numa esplanada de um café que existia no Cais do Sodré. Esperei até às 12h15, e quando já não tinha esperança que ele chegasse eis que surge o Filipe.
Não trazia o seu sorriso habitual, mas uma expressão dura de poucos amigos. Envergava o habitual casaco de cabedal e desta vez trazia uns óculos escuros que nunca os tirou.
- Então tudo bem? – pergunta num tom seco
- Desculpa impor-te a minha presença…
- …mas estás a impor! – interrompendo-me de forma violenta – és muito novo, tens 21 e eu tenho 28! Não te quero tirar da casa dos teus pais!
- Mas não tiras…
- …ouve…eu já sofri muito por amor…não quero que sofras por mim. Eu, ainda, amo outra pessoa! Não dá para andarmos a brincar aos namorados.
Se por um lado quase que chorei, por outro não lhe iria mostrar esta face mais frágil da minha pessoa.
O silêncio invadiu-nos.
- Tenho que me ir embora! Queres que te deixe em algum lado!?
- Não, obrigado. Até um dia destes…

O Filipe abandonou a esplanada e apercebi-me que tinha abandonado a minha vida de vez. Eu nunca fiz parte da vida dele…sentia-me como o brinquedo que serviu para mostrar aos outros…certamente fui mais um.
Vim a saber que a companhia foi para o Porto, e eu retomei a minha vida no ponto que a tinha deixado quando o conheci.
A noite já não tinha o mesmo encanto, faltava-me o conforto daquele sorriso. Aos poucos fui esquecendo-o. Vim a conhecer, outras facetas proibidas da sua vida que me levaram a compreender que ele pertencia a mundo distante do meu.
Passou-se um ano e nunca mais ouvi falar em tal pessoa, até que numa noite no Bairro, ao atravessar a Rua da Atalaia, ouvi um “Olá!..”. Não me virei sequer, pois havia um mundo de gente à entrada das Portas Largas. O “olá” fez-se ouvir novamente e continuei a andar. De repente uma pessoa, de forma muito apressada, coloca-se à minha frente…Era o Filipe.
- Olá, estás bom? – perguntou-me com aquele sorriso, que já não tinha aquele brilho dos tempos de outrora.
- Ah!...olá! Tudo bem!
Percebi naquele instante, que a insistência nos “olás” e o colocar-se propositadamente à minha frente, foi porque já não se lembrava do meu nome. “Grande puta” pensei…
Eu que tinha o nome do melhor amigo dele…naquele instante cruzou-me o espírito de quantos gajos ele terá tido durante esse ano que passou. “Fui mais um…”
- Estreei outra peça
- Eu sei! – respondi no tom mais seco que alguma vez pensei conseguir.
- Queres ir ver?
- Pode ser!

Aquela resposta afirmativa fez-se acompanhar dos sentimentos mais negativos que eu alguma vez poderia guardar dele. Mas aceitei.
- Pode ser na terça-feira? Vou deixar o bilhete à entrada e dizes que tens um bilhete guardado por mim…
Se tinha dúvidas que ele se tinha esquecido do meu nome, aquela era a confirmação final. Percebi que nunca tinha tido espaço na sua vida, que nunca lá tinha estado a não ser por efémeros momentos de êxtase físico. Foi só isso! Eu não tinho sido ninguém. Fui um engate que, ao contrário dos outros, não foi numa casa de banho publica, e que, pela forma mais inocente, lhe dedicou amor.
- Ok! – respondi com um sorriso nos lábios - Fica então combinado!
Escusado será dizer que nunca lá fui levantar o bilhete, nem tão pouco assisti à peça. Nunca mais o vi desde então, a não ser numa ou outra novela na televisão.
Afinal de contas o sorriso dele não era tão bonito assim…afinal de contas, é pelo sorriso que as meretrizes nos conquistam…

domingo, outubro 01, 2006

Amores revisitados....Parte IV


Parámos em frente de um prédio antigo em Alcântara, daqueles com duas portadas em madeira e tocamos à campainha. Não tardou muito que nos abrissem a porta e ao longe já se ouvia musica. Subimos por umas escadas em madeira até ao segundo andar.
O aniversariante aguardava-nos à porta com um sorriso de felicidade, e após as devidas apresentações entrámos em casa. Havia um tumulto de gente que circulava naquele corredor estreito completamente indiferente à nossa chegada e ouvia-se jazz acompanhado de uma voz feminina. Percebi que o aniversariante ter-se-ia mudado havia pouco tempo pelo que nos fez questão de mostrar a casa, essencialmente a cozinha e a casa de banho. Os outros quartos não mostrou, uma vez que nestes havia um corrupio de gente a entrar e a sair.
Entrámos na sala, apinhada de gente. Uns estavam bem sentados em sofás e poltronas, outros sentados no chão em almofadas. Sentia-se perfeitamente bem uma hierarquia de importância naquele cenário. Uma figura de uma mulher magra, morena e extraordinariamente elegante encontrava-se em pé de costas para a porta. Para meu espanto quando esta se vira percebi que a voz feminina que se ouvia era ela e não do CD. Cantava graciosamente por cima de uma orquestração como eu nunca tinha ouvido. Ela virou-se e, interrompendo a sua exibição, disse: “Olha o Filipe!”
- Olá Vanda…
Tempos mais tarde vi esta estranha mulher na televisão com cabelo azul…
Não conversei com ninguém, era um estranho mundo de caras estranhas e ao mesmo tempo conhecidas. As conversas diziam respeito a mexericos de bastidores e eu estava cada vez mais longe do meu mundo. Olhavam-me de soslaio demonstrando uma curiosidade de saber mais sobre mim.
Há alguém que diz “vamos tirar uma fotografia!”. Pusemo-nos todos juntos, tipo equipa de futebol, o Filipe procurou-me para ficar ao meu lado em baixo, e ficou com a mão por cima do meu ombro. Nunca vi tal fotografia. Pode ser que apareça daqui por 50 anos na fotobiografia de algum celebre…
Cantámos os parabéns e apagaram-se as velas num magnífico bolo de chocolate, que pelo menos três pessoas não quiseram comer.”Caprichos com dietas!” pensei eu. Ouve-se, então o aniversariante:
- Então gostaram do bolo de “haxe”?!?!?
A principio não percebi, aliás não queria perceber…mas afinal era verdade. Naquela altura, e certamente nos dias de hoje, havia um conjunto de receitas de cozinha em que de entre os ingredientes o haxixe era um deles. Agora percebi porque é aqueles não quiseram comer bolo! Fiquei em pânico! O pensar que podia ficar sem as minhas faculdade intelectuais afastou-me sempre do álcool, dos psico-trópicos e de outras drogas, e agora tinha acabado de comer bolo de haxe!! Fiquei visivelmente perturbado, pelo que tentei disfarçar junto do Filipe.
Refugiei-me na cozinha encostado a um balcão rodeado de sacos de lixo cheio de copos e pratos de plástico. Não sabia o que iria fazer, não sabia se iria ter repercussão no estado de consciência. Eu queria ir para casa o mais rapidamente possível, se já não estava bem, ali muito menos. O Filipe procurou-me e beijou-me, as pessoas entravam indiferentes na cozinha à procura de bebida e ele mantinha-se igualmete indiferente com a sua presença e continuava a beijar-me.
- Não estás à vontade aqui, pois não?
Eu respondi com um encolher de ombros.
- Vamos então, eu levo-te a casa!
Eu queria era chegar a casa antes de me acontecer alguma coisa. Se tivesse que ficar drogado seria na minha cama e ninguém daria por isso…
Pela primeira vez o Filipe iria levar-me a casa. Parou o carro e disse:
- O que fazes amanha? Queres ir dar uma volta?
Assim foi, no dia seguinte foi me buscar a casa às 11 da manha e rumámos ao Cabo Espichel. Parávamos o carro sempre que nos queríamos beijar com mais intensidade e eu não queria acreditar no que estava a viver. Dali fomos ao Meco e depois debaixo de uns pinheiros amámo-nos intensamente – pensava eu… Ele adormeceu e eu fiquei a observá-lo e a fazer planos para o futuro: eu acabaria o meu curso dali por meses, já tinha propostas de emprego e depois alugávamos uma casa e seríamos felizes para sempre…
O Filipe acordou e eu beijei-o. “Não tens fome?”, perguntei-lhe, sabendo de uma tasca ali perto chamada Mequinhos onde servem uns petiscos óptimos.
Lá fomos. Já não me recordo do que comemos, mas não era isso que importava, era o facto de estar junto dele. Isso sim era o mais importante. Eu deliciava-me a vê-lo comer, deliciava-me a vê-lo sorrir para mim. Eu estava indubitavelmente apaixonado! Não era só a figura nem o físico, mas por uma forma de estar na vida, pela serenidade, não sei…havia um conjunto de coisas nele que me hipnotizavam sem eu mesmo saber quais eram. Estava feliz nesse domingo!
Ás cinco da tarde a noite já fazia sentir a sua chegada, rumámos a Lisboa. A sua cara sofreu uma transformação pelo caminho: não falou nada a não ser que tinha que orientar a vida. Eu pensava: “Que orientes! Agora estás comigo”. Ao memo tempo pensava que se o meu primeiro amor gay não seria apenas uma ilusão. Certamente não estava muito longe disso, mas era o tipo de pensamento que eu exorcizava logo que ele se aproximava.
Deixou-me à porta de casa dos meus pais e despediu-se com um beijo envergonhado e longe do olhar de quem pela rua circulava, e disse-me: “Depois telefono-te!...”