sexta-feira, novembro 10, 2006

Uma recordação do oriente




Ao passear descontraidamente pelo Saldanha, cruzei-me com alguém que faz parte do meu passado…e talvez do meu presente: se ele não foi o homem da minha vida talvez tenha sido o amor da minha vida, mas…não estávamos destinados um para o outro.
Já não o via há muito tempo, aliás nunca mais nos falámos desde aquele fatídico dia em que fui obrigado a fazer uma escolha…não sei se a minha escolha foi a mais acertada, mas esta escolha deu-lhe um filho. Não posso esquecer o seu olhar amendoado, as suas raízes orientais, a sua forma terna de me dirigir a palavra. Tudo nele me fascinava, a não ser o facto de ser casado... Foi este facto que me forçou a tomar uma decisão. Não seria capaz de suportar uma culpa da destruição de um casamento, fui obrigado a dizer-lhe que não…que tinha outra pessoa. Foi o melhor para ele, e …cobardemente para mim.
Foram tempos loucos de completa insanidade, de nos encontrarmos às escondidas na sua própria casa, de passeios de carro, de noites em que mais parecíamos fugitivos. O contar dos minutos juntos…O seu cheiro que nunca hei-de esquecer…mas a vida não quis que ficássemos juntos…foi o melhor para ele.
Hoje quando o vi, um filme passou-me à frente dos olhos, em que eu e ele fomos protagonistas. Ainda me lembro dele com muita frequência, gostaria que ele se lembrasse de mim…mas apenas das boas coisas, e não do punhal que eu, sem aviso, o atingi. Ainda trago comigo um porta-chaves que ele me deu: uma bota em miniatura da O’Neill.
Depois da ruptura, vim a saber que tinha tido um filho, encontrei-me com ele uma ou duas vezes, cumprimentámo-nos de forma fria e distante, e nem conversámos sequer. Sei que ficou magoado comigo, aliás muito magoado, mas eu não seria capaz de tomar outra decisão. Por isso, creio ter sido a melhor decisão naquela altura e naquele momento.
Ainda me lembro das suas palavras: tu és a minha última cartada... Como se eu fizesse parte do jogo da sua vida. E eu queria ser a cartada da vida dele, mas não fui... fui antes a carta que lhe trouxe a derrota ao jogo.
Hoje, ao fim destes anos que passaram, quando o vi, as minhas pernas ainda tremeram...

9 comentários:

Joao disse...

"Foi o melhor para ele"... é uma afirmação assustadora. Cria a ilusão de que a nossa vida é sobre os outros, quando devia ser sobre nós. A questão é, seria o melhor para ti? Se sim, porque não foste à luta? Se não, porque estás a dar desculpas?

AEnima disse...

manuel,

Sem de qualquer maneira querer desrespeitar o comentario tao bem intencionado do monastero, eu nao acredito que ele tenha razao.

Eu tambem tive assim um amor doido, uma paixao maluca, mas nao pode ser, no longo prazo nao pode ser... acontece a todos, todos nos temos. E as vezes eh melhor ficarmos com as boas recordacoes. Perseguir algo que nos faz mal, em nome da paixao, da resultados muito desastrosos... e a verdade eh que depois deixamos de recordar aquele amor como a "nossa" fabulosa paixao, de momentos proibidos e lindos, mas passamos a ve-la com o desgaste e a magoa que o passado mais recente trouxe.

Eu compreendo-te. Por acaso neste aspecto compreendo bem. Acho que se fosse eu que vivesse na tua pele provavelmente nao tomaria uma serie de decisoes na vida que tu tomaste, como a de esconder a tua homossexualidade. Sou muito "aberta" para isso, tenho o coracao e tudo o que vai nele espelhado na cara. Mas desta vez, nao so compreendo a tua escolha (como todas as tuas escolhas e as de todos) mas tambem acredito que faria o mesmo.

Sabes, nesta vida ninguem esta sozinho. Se te servir de algum reconforto, acredita que todos nos ja tivemos um amor assim. Alias, o proprio amado que referes ja deve ter sido o que feriu uma terceira pessoa. Desta vez foi ele o ferido. Outras vezes, foram outras pessoas que te feriram tambem, talvez sob uma maneira diferente.

Beijinho,
E*

Pedro Eleutério disse...

Sem aviso prévio dizemos que não. Mão dá... não daquele jeito. A aenima tem razão. Todos nós já passamos por isso, ou vamos passar um dia. Deixar para trás algo que nos é importante num determinado momento. E ficaremos eternamente a pensar no que poderia ter sido... mas não foi.

Quantas vezes não relembramos o passado com um aperto no peito, com uma lágrima, com um suspiro que esconde em si aquilo que não conseguimos verbalizar. E nada mais temos a fazer que seguir em frente. Confesso que o teu texto trouxe-me algumas memórias... do passado. Um suspiro contém as palavras que não consigo dizer.

Um abraço

Manuel disse...

Monastero:
Antes de mais...bem vindo à conversa. O pensar no melhor para ele, neste caso, não foi certamente numa dimenão altruista, mas talvez mais numa dimensão egocentrica: o não querer ficar com a culpa da destruição de um casamento. Eu não suportaria a ideia de ser o responsável... talvez tenha sido uma forma de eu ter conseguido ultrapassar uma situação mais penosa, e perante os recursos emocionais que eu dispunha, acredito que foi a melhor opção para os dois.
Uma decisão, mesmo mal tomada é melhor que uma indecisão...

Aenima:
Que agradáveis as tuas visitas! Como me refrescam e me fazem perceber que independetemente do genero as matérias relacionadas com os afectos são tão iguais.

Pedro:
Um suspiro contém as palavras que não consigo dizer. Os meus suspiros têm uma carga ambigua, ora são por um sentimento de perda e angustia, ora são por um sentimento de ter sobrevivido a tempos muito tumultuosos cuja maturidade de então não acompanhava a delicadeza da situação. Fiz o que achei melhor.

Um abraço a todos

Pedro Eleutério disse...

Oi Manuel,

para responder ao teu comentário no meu blog: não estou em terras lusas. Este ano resolvi fazer uma aventura. Estou em fortaleza, Brasil, por um ano lectivo a fazer o meu quarto ano de faculdade. Se te interessares podes acompanhar a minha reportagem fotográfica em http://www.flickr.com/photos/pedro_in_brasil/ . E, já agora, obrigado pelo teu comentário lá no meu universo. Como te disse, no meu primeiro comentário, vim aqui parar ao acaso fruto de uma conversa com outro amigo e tem sido bom ler o que tens para dizer.

Um abraço
Pedro

Anónimo disse...

Concordo com o Monastero. Não deveremos tomar decisões pelos outros. Tomara tomar-mos as melhores decisões na nossa vida, quanto mais termos de pensar pelos outros. Não és responsável pelo o que os outros fazem. és responsável por ti. se não te sentias confortável pelos incovenientes desse tipo de relação, tudo bem, caso contrário, tomas-te o caminho errado, na minha opinião.
jusss

Anónimo disse...

eu escrevi tomas-te??????? Oh que desgraça.... Tomaste, corrijo

Luís disse...

É um dilema lixado: gostar de uma pessoa, saber que com ela seremos felizes mas, por algum motivo, termos que nos afastar dela. A mim também já me aconteceu. Doeu imenso. A decisão, os momentos de reflexão que a ela levaram e os momentos posteriores a essa mesma decisão.

Hoje é uma foto do passado, guardada num álbum. Que vejo de vez em quando e recordo com um sorriso nos lábios. Apenas isso.

Anónimo disse...

Som, custa sempre. Talvez mais do que a quem comunicamos a ruptura. Porque quando se gosta, dizer não é muito doloroso.