terça-feira, outubro 17, 2006

Um almoço nauseante...

Hoje apanhei uma camada de nervos ao almoço…a quantidade de anormalidades que se dizem sobre os gays! E o mais revoltante é que quem profere determinadas coisas acredita piamente naquilo que diz como se fosse um perito em homossexualidade…
Tudo começou quando se falava de filmes e alguém teve a infeliz ideia de fazer referência ao Brokeback Mountain. Começou, então, uma discussão intelectual, cheia de pormenores sórdidos, sobre o amor gay e com referencia ás ultimas tendências (que eu desconhecia por completo!!!...), que consiste em que os gays não tomam banho por ser um fetiche o cheiro a suor e a transpiração!!! É impressionante como pessoas com uma diferenciação cultural e com responsabilidades sociais se dêem ao trabalho de inventar e disseminar coisas do género! Foi nauseante! Só me apeteceu saltar para cima da mesa e “sair do armário” e perguntar-lhes se tinham duvidas que eu tomasse banho! Mais uma vez opto pelo silêncio cobarde e mantenho o meu disfarce.
Mais uma vez a homossexualidade é associada a Carnavais gay como as prides, a desvios patológicos, ao travesti, à promiscuidade e a tudo que é pernicioso na nossa sociedade.
O meu silêncio, e o de outros, pode ser cobarde mas creio ser a única forma de sobrevivermos neste meio hostil.
Ás vezes penso que se existisse um interruptor em mim que me transformasse em hetero não sei se não carregava nele…
Contudo…SOU FELIZ COMO SOU!!!

17 comentários:

Luís disse...

Tomar banho é bom. A discriminação é má.

E quando a discriminação vai mais longe do que preconceitos parvos acerca da higiene pessoal? Já nada me espanta desde que há três meses recebi um telefonema com o seguinte teor: "Dr. não defenda esse cliente. O senhor não sabe mas ele é gay!" O "arauto" em causa explora um restaurante. A minha resposta: "Desculpe, mas você antes de servir os seus clientes pergunta-lhes se se deitam com homens ou mulheres? É que aqui no escritório não temos esse hábito."

Pedro Eleutério disse...

Ainda no outro dia me perguntaram: Se existisse uma pilula para tu tomares e deixares de ser gay tu tomavas? Eu respondi que não. Gosto de mim como sou, com os meus defeitos e feitios. Mas percebo o que dizes em relação ao silêncio para sobreviver. Aqui em Fortaleza a discriminação é muita e o machismo ainda maior. Mas temos de agir no dia a dia com amor próprio. E não podemos deixar que essas coisas nos derrubem os alicerces. Existirão muitos jantares nauseantes pela frente. Até ao dia em que mais ninguém dará impoirtância a quem ama quem.

Um abraço
Pedro

Aequillibrium disse...

Lindo menino. assim é que é!
Temos que gostar de nós próprios antes que os outros gostem de nós.
Uma pessoa antes de ser gay, hetero, ou qualquer outra coisa, é uma pessoa. Quando se entende isso, tudo fica mais fácil. Mas para muita gente, ver a pessoa, para além do resto, é dificil, senão impossível.

AEnima disse...

Manuel,

Acho que o Hugo tem muita razao sabes... o motivo porque tantos heteros vem erradamento os homo eh porque so conhecem a faixa mais extremista dos homos, os muito assumidamente espalhafatosos. Os restantes, como tu e provavelmente a maioria, preferem ficar no armario e a sociedade nem os reconhece.

Nao estou a recriminar a tua decisao, nao, longe disso. So nao nos podemos eh lamentar infinitamente e eh preciso comecar a educar as mentalidades.

Nao sei se ja disse que nao sou gay. Nao sou, nao me esta no sangue. Olho para uma mulher e posso acha-la linda, sensual, sexy, inteligente, interessante, etc e digo-o abertamente mas nunca senti nada remotamente sexual por nenhuma, nem em fantasias, coisa que eh muito comum entre os hetero.

Mas sei bem o que sentes, porque tambem sou discriminada numa base diaria em coisas que nem da para acreditar:

- a maneira como visto eh considerada provocante e porque tenho um peito muito grande mesmo qq roupa mais justa facilmente me pode dar um ar mais ordinario. Claro que nao o sou, mas isto, na terra onde estou eh considerado um atentado ao pudor... um simples vestido vermelho comprido com decote nada abusador eh motivo para ter muitos problemas.

- o facto de ter tido varios namorados... ter ido para a cama com eles quando me apeteceu e nao quando era "suposto" (depois do date nr. x e n telefonemas).

- O pior de todas as discriminacoes: nao acreditar em Deus. Se o assunto eh religiao sou imediatamente afastada dos filhos das pessoas porque posso ser ma influencia.

- o ter partilhado casa com rapazes, sendo eu uma rapariga. Isto eh coisa de puta, uma rapariga normal nao pode dividir as despesas com colegas de universidade sem obrigatoriamente andar a dormir com todos.

Bem, tenho muito mais para falar e outras palavras para te dizer mas esgotei o meu tempo de antena e tenho k voltar ah labuta (ah sim... ser uma mulher no meu meio de trabalho tb eh diferente: eh preciso trabalhar o dobro e ser 3 vezes mais qualificada para que as nossas ideias tenham o mesmo valor).

E no entanto nao sou feminista, nem apoio movimentos feministas, nem as clausulas das % obrigatorias serem preenchidas por mulheres e minorias etnicas. Havemos de conquistar o nosso lugar por merito, e nao por leis que nao promovem a eficiencia nem a equidade.

Beijoca

Anónimo disse...

O preconceito que tentas defender através deste teu post entendo que está para além o entendível... Um dia questionei a sociedade e as suas regras, um dia questionei os comportamentos, um dia observei...

E perante a observação das pessoas assisti a coisas curiosas e tirei conclusões... O ser humano fraco está sempre a tentar ganhar argumentos para se entender forte... é fácil ferir as minorias... especialmente se há uma minoria na sociedade que em si se esconde, e o esconder não se trata de não andar com pulmas e vestidos femininos, nos homens, ou com fatos de macaco e cabelo rapado, nas mulheres.. É antes um fechar dentro de si mesmas... Talvez se atinga um ciclo vicioso... pelo que vejo é assim que acontece... se alguém diz que é gay logo é associado a comportamentos explosivos, de luxúria e anti-sociais.... mas esses comportamentos só se associam assim porque a dimensão exposta, ou que se revela é essa mesmo, é a que sobressai.... os outros são eternos anónimos, pessoas, na mesma pessoa, todos pessoas, mas simples seres humanos cuja sexualidade é uma referência interna e interior... E porque será que um gay tem que dizer que é gay, ou proque será que um hetero tem que se afirmar como hetero? Será que as pessoas tem uma necessidade especial de se afirmarem? Será que não são conscientes de si mesmas? Não será isso tanto mais importante? Pois bem... Assiste-se constantemente a este mundo de situações... e por isso penso que existe mesmo essa necessidade de afirmação... Eu chamaria comportamentos infantis! Até porque estou convencido de duas ou três coisas quanto a homosexualidade... a primeira é que não se trata de uma opção, mas sim um processo interno que biológica ou fisiológicamente, motivado por mecanismos desconhecidos ou por revelar, se traduz na atracção por pessoas de sexualidade semelhante,.... a segunda é que os comportamentos que se assistem no seio do meio homosexual em grande parte também eles mesmos têm uma motivação interna, biológica e/ou fisiológica, explicada por um complexo conjunto de hormonas femininias, um desregulamento interno... a terceira é que realmente há todo um fenómeno social subjacente... Há realmente uma moda... um quer ser estravagante, um querer ser fashion... Claro que isto se associa a muitos meios, como o artistico, o mundo da moda... mas ai porque há muito dinheiro por trás... e isto começou já há umas decadas atrás... Como em todos os meios da alta sociedade há uma grande luxúria a comandar os fetiches armados, um querer ser diferente, uma liberdade absoltua que não vê limites para actuar... na sexualidade, nas drogas,.... em tudo, o dinheiro compra tudo... e para ele também se vende muito... Mas se analisarmos bem toda esta questão também no seio heterosexual isso existe, existe prostituição, existem centenas de canais sexuais em chats, existem cada vez mais sites que deambulam na net todos os dias a caixa de correio me é entupida com sites desses, para conhecer pessoas, redes de amigos.... existem discotecas... que por muito que uma grande parte se vá divertir, outra procura o engate, se veste a rigor para saciar uma noite ou um momento... Afinal termino agora, para que descriminar? A essência reside nas pessoas, e não em barreiras sexuais! Há de tudo em todos os lados, e enquanto não se libertar essa pressão no seio homosexual, o que vai acontecer e continuarem a existir mulheres e homens que se casam para manter aparências, vivendo infelizes, traições humanas e vidas duplas, e pessoas que vivem em constante dualidade consigo mesmas... É rídiculo numa sociedade moderna, onde o conhecimento se prolifera, onde as pessoas passam por pessoas e pessoas nas ruas.. ainda não se perceber que seja aquela pessoa homo ou hetero, isso apenas pertence ao se intimo, mesmo que no exterior se revele... é uma pessoa! É isso que importa!

Desculpa ter escrito tanto, mas acabo com a sensação que ficou ainda tanto por dizer...

AEnima disse...

O thinker pos hoje em palavras melhores aquilo que sempre defendi na vida... e defendi qdo conheci o teu blog e te disse que nao achava que houvesse necessidade de afirmares ao mundo leitor logo no cabecalho que eras gay. Cada um seja o que quiser... os outros aceitam ou nao!

Anónimo disse...

Para não entrar de rompante por outros campos, diz-me que isto é mentira...
Como é possível, em pleno século XXI, ouvir (ainda) barbaridades destas?!...Deuses!
Hoje, atrevi-me a comentar. Não resisti, perante tal post.

(Não queria estar nesse almoço...Apre! )

Momentos disse...

Não me vou alongar, porque penso que sabes o que acho de tal situação. Apenas faria em tal situação o seguinte: "Adeus até ao meu regresso!"

Abraço

/me disse...

Queria comentar o comentário:

"Enquanto houver marchas e dias de orgulho, onde se cultiva o prazer de ser diferente, as coisas vão continuar como estão!

Se queremos ser "iguais"...não nos podemos fazer de "diferentes"!"

_______________

Acho que é muito tentadora a imagem do gay bom e do gay mau, em que o primeiro é silencioso, discreto, masculino, e o segundo espalhafatoso, assumido, talvez efeminado. Aliás, já partilhei dessa visão do mundo, em que havia uns bons (nos quais me incluía, claro) e os outros (das paradas gay).

Agora acho toda essa ideia uma patetice. Acho uma capitulação às normas sociais sem muito sentido, e uma forma também de descriminar. Afinal, qual é o mal de alguém ser espalhafatoso, de um homem se vestir de saia cor de rosa, de ser efeminado, de beijar o namorado na rua? É que não é normal? Erm, esse é o mesmíssimo argumento contra a homossexualidade. Sim, acho que não devemos andar aí a chocar os outros, mas a intolerância para com comportamentos que não se conformem com aquilo que achamos que deve ser essa sim é que é chocante.

As paradas gay promovem a diferença? Acho bem. Todos soubéssemos ultrapassar os preconceitos e aceitar o que é diferente. Claro, não há que perder os valores nem relativizar, mas se se mantém a ideia de que pintar o cabelo de verde faz alguém pior pessoa por não ser normal, vivemos numa sociedade muito parva.

Quanto à aceitação da homossexualidade, há quem defenda que era melhor não haver paradas gay. Assim, poderíamos dissolver-nos na normalidade. E, certamente, discriminar os que não apanhassem o combóio da normalidade. Acho que devia ser ao contrário, temos TODOS de nos tornar mais inclusivos. Se temos de nos adaptar à sociedade, esta também tem de permitir a diversidade, que apenas a enriquece.

E agora, pergunto, de quem é a culpa de que a homossexualidade não seja aceite? Acho que é mais facilmente imputável aos "normais" que, como eu, se mantém calados, do que aos que promovem as paradas gay. Esses, ao menos, fazem alguma coisa. Nós, se nos assumíssemos, contribuíamos para acabar com preconceitos. Mas por cobardia calamo-nos. Ainda bem que há quem tenha coragem.

Anónimo disse...

É bastante compreensivel a tua revolta, mas infelizmente ignorantes e homofobicos frustrados vão sempre existir!
Abraços ;)

Anónimo disse...

bom, se eles descobrissem, que temos uma cauda de raposa e que nas sextas feiras 13 pegamos nas vassouras e voamos para os perseguir, isso sim, passavam-se....

Anónimo disse...

pedro, eu tomava, seria muit mais feliz, sem dúvida, e atenção que não é pelo preconceito ou pela mente tacanha de certos individuos pseudo cultos

Anónimo disse...

/me, não vejo os heteros a fazer paradas heterossexuais. Vives numa sociedade, e há que saber inserir-te nela. Ou pensas que so os gays são espalhafatosos? Migo há muito hetero que no meio de uma reunião apetece mandar o orador ir dar uma volta, e não o faz pq? para n p chocar? pq não é convencionado? tv pq e essa a educação que lhe deram. Acho que deverá haver tanto orgulho em ser gay como em ser hetero. Sou o que apelidas de normal, não sou espalhafatoso não vou para o emprego dizer que o meu namorado isto ou aquilo. mas tb acho que pertence a minha vida pessoal e ng tem nada a ver com isso se me apetece beijar um gajo na rua, falo-ia, mas sou conservador e nem acho piada aqueles beijos lambuzados que muitos heteros teem a mania de dar, ha lugares e tempo para tudo.

/me disse...

Sarmigal, a diferença é que os heteros não têm necessidade de fazer paradas heterossexuais. Afinal, eles já têm os direitos assegurados, enquanto heteros.

Penso que alguns gays são muito espalhafatosos, tal como alguns heteros o são. E penso que te incomoda o facto das paradas gays perpetuarem a imagem dos gays enquanto espalhafatosos. Mas a verdade é que todos os gays - espalhafatosos ou não - são descriminados. E, generalizando, os espalhafatosos são os que lutam pelos seus direitos. Os normais, acomodam-se (estou a fazer um mea culpa). E assim, a culpa dos gays serem vistos como espalhafatosos, para mim, não está no facto destes fazerem barulho, mas sim no facto dos "normais" se calarem. Se vamos fazer uma avaliação moral, então parece-me que os "normais" é que saem mal (novamente um mea culpa), e não o contrário.

Para finalizar, confesso que também não me agrada a sub-cultura gay, mas entendo-a como um produto da discriminação, e não o contrário, nunca o contrário (afirmar o contrário, a mim, parece-me cínico).

/me disse...

Mais um comentário. Quem é que ficou para a história como heroína? A senhora negra (de cujo nome não me lembro) que se recusou a ceder o seu lugar no autocarro, ou a que se conformou com as normas sociais e fez o resto da viagem de pé?

AEnima disse...

/me... comparar racismo com homossexulidade eh um salto olimpico!

E depois... que direitos eh que os gays nao tem? Fora o do casamento (que nem sequer ha vantagens fiscais em se englobarem rendimentos se fizeres bem as contas), eh legal ate adoptares criancas, e no caso de casais femininos, recorrer a bancos de esperma e engravidar etc etc etc.

Fora uma ou outra piada de mau gosto de um bronco homofobico, onde eh que os gays sao discriminados???? Desculpa la, mas tenho amigos em certas areas mais artisticas que ate se queixam de serem discriminados por NAO SEREM gays.

Ta bem, ouvem umas bocas foleiras de vez em quando... mas muito piores ouvem as gajas gordas e feias, por exemplo, os putos de oculos, os de aparelho... xi... todos somos julgados, ser gay eh so mais uma caracteristica!

/me disse...

Eu comparei homofobia a racismo, de facto, e volto a comparar.

O problema da homofobia não é de desprezar. Aliás, podes ler(aqui: http://www.pinknews.co.uk/news/view.php?id=2758 ) como os ataques homofóbicos são um problema estatisticamente muito relevante nos EUA.

Há homossexuais que são despedidos (em Portugal) por o serem, e ainda há pouco tempo um blogger foi atacado à saída da FNAC do Chiado.

Quanto aos direitos em que os homossexuais são discriminados, são bastantes. A adopção não pode ser conjunta, tem de ser a nível individual. O casamento dá vantagens a outros níveis, como heranças e até reconhecimento social. São coisas sem importância? Não me parece... Ainda menos porque mandam o sinal para a sociedade dos gays serem menos que os heteros. E isso dá origem a muitas coisas.

Uma LARGA percentagem dos jovens que se suicidam é por problemas ligados à sexualidade. Muitos homossexuais passam por depressões e problemas graves de auto-estima. As gajas gordas e feias também? Pois sim, também, mas elas também tinham esses problemas quando os pretos eram discriminados por o serem. A desgraça de uns não permite que desgracemos a vida a outros... ou sim?