quinta-feira, outubro 26, 2006

Diz me o que vestes que eu dir-te-ei quem és…ou não?!

Ontem fui a uma das nossas famosas livrarias de Lisboa procurar por um livro que se encontra esgotado em Portugal Há muito tempo. Fiquei deliciado ao saber que o poderia ter daqui por dois meses…vindo do Brasil! Pois bem vou ler literatura cinetifica em português falado no brasil…legau…bacana…que vómito. Mas enfim é o que se pode arranjar.
No acto da encomenda a jovem que me atendeu pedi-me o meu telefone e obviamente o nome. “Manuel”.
A determinada altura esta jovem, após confirmar nas outras cidades do país a inexistência do livro, diz-me “Oh Manel…vai ter memo que esperar dois meses…”.
A minha parceira de trabalho que me acompanhava, Mariana, jovem de quarenta anos, muito dondoca, por sinal, mas muito minha amiga vira-se de costas para a jovem funcionária e diz em tom audível “Oh Manel?!... Oh Manel?!”. Inevitavelmente provocou um momento de embaraço nesta funcionária que não conseguiu esconder o rubor na sua face. Ficou perdida, não sabia como iria me dirigir novamente.
Apressei a conclusão da encomenda, e a minha amiga Mariana, que estava estremamente incomodada com este abuso de confiança fez-me uma dissertação da necessidade de se usar fato e gravata!!!!....
Como se o fato e gravata definisse o posicionamento sócio-cultural e económico de uma pessoa. “Assim manténs o respeito…” continuava ela. Qual respeito? Pergunto eu? Um homem é o que é, não pela roupa que enverga, mas sim pelas suas acções e forma de estar na vida.
Eu cá continuo a preferir as t-shirts, as swetshirts, as calças de ganga – quanto mais russas melhor - os tennis, embora reconheça que existem momentos e sacrifícios para tudo.
A conversa começou a azedar quando fiz referencia que pessoas como ela vestem para impressionar os outros…Tive que pôr ponto final a uma discussão estúpida provocada por uma atitude menos reflectida de uma funcionária de livraria, que não conhece as regras de etiqueta e de atendimento ao publico.
O que acontece é que o meu organismo rejeita gravatas…deve ser alguma coisa congénita!!!....

15 comentários:

Luís disse...

Eu suspeito para falar: sou daquelas criaturas que nem sequer pode dizer que usa gravata de segunda a sexta porque no escritório foi implantado o hábito de termos a "casual friday" (dia em que os engravatados fingem que são muito "casual" e vão trabalhar de sapatinho de vela, calças de um fato e casaco de outro, mas sem gravata, lol). Ora, ter este ritual à sexta ainda é pior do que usar gravata a semana toda porque tem dois efeitos: ou se fica sem saber o que vestir porque só se concebe ir para o escritório com fato e gravata ou se é alvo de críticas (como é o meu caso, lol) por se levar a história do "casual" demasiado à letra. Acredita. Já tive direito a verdadeira palestras sobre a diferença entre ir trabalhar de calças de ganga "normais" e calças de ganga ruças ou com bolsos de lado, lolol.

Para além disso, a tua colega não tem razão com a história da gravata: no outro dia estava no tribunal à espera de uma juíza com o advogado da outra parte e a funcionária diz: "isto fica aqui para vocês lerem enquanto eu vou ver se ela já desceu para a sala". O colega, de mais idade, ficou vermelho e diz-me: "Ela"??? "Vocês"??? No meu tempo dir-se-ia: isto fica aqui para os senhores drs lerem enquanto eu vou ver se a Sr.ª Juiz já desceu! Eu ri-me. io-me sempre com o assunto do respeito, das gravatas e das excelências...

Anónimo disse...

Sou alérgico a gravatas ou a qualquer coisa que me aperte o pescoço, fico desconfortável. Achei piada à Mariana ou à Dra (n vá ela ler o blog) Mas não acho grave. Há cada vez mais em atendimento ao público uma tentativa de proximidade.
Quanto ao vestir, bom, efectivamente há um tratamento diferente. Se bem que em termos comerciais se tenta minimizar cada vez mais. Drs há muitos Srs, bom srs há poucos. o "você" é que não desde que não me tratem por vc, sou bastante tolerante.

Anónimo disse...

Pois....
Mas as pessoas ligam muito as aparências, eu como ando algumas vezes o mais desleixado possível, barba grande calça de ganga, ou vestido de preto, bem! O tratamento é contrário, basta entrar em certas lojas para não me largarem de mão, não vá eu por a mão em alguma coisa!

Aequillibrium disse...

Concordo plenamente! Trabalho de t-shirt e calças de ganga, camisa e calças. o que me apetecer. Gravata e fato é que não. Há quem o faça, mas para mim não dá. Já ouvi bocas. But who cares?! Continuo na minha, a fazer o meu trabalho o melhor que posso e os outros que aguentem.

;)

Anónimo disse...

"Um homem é o que é, não pela roupa que enverga, mas sim pelas suas acções e forma de estar na vida.
"
Partilho da mesma opnião!
Gostei bastante do que escreveste!
O modo/estilo de vestir, não diz nada do que verdadeiramente somos!
Abraços ;)

AEnima disse...

manelito:

Nao considero que a empregada te desrespeitasse por te chamar manel. eu faco-o no meu dia a dia com todas as pessoal que se chamam Jose por exemplo. e se levarem a mal, problema delas. Quando pergundo o nome a alguem e me dizem Jose, por exemplo..., imediatamente passo a tratar por Ze, nem que seja o Socrates.

ja nao faco o mesmo com os antonios, nao sei porque, e outros.

quanto ah roupa... xi.. que historias podia contar. mas estou cansada. outra altura.

Beijoca!

Pedro Eleutério disse...

Bem,

fico sempre reticente a falar de vestuário, mais não seja por cursar o curso de Design de Moda. É engraçado ler o que os outros falam sobre o modo como se vestem e a forma como isso influencia, ou não, a sua maneira de estar. Poderia aqui falar sobre os códigos da roupa, mas acabaria por despejar aqui uma tese. Fico-me só por dizer que o nosso vestuário, aliado à forma como agimos, aos adereços que usamos, refletem muito do que somos. E mesmo de gravata ao pescoço, o desconforto que transparecemos já transmite algo.

Falando agora de respeito. É claro que devemos respeitar as distancias existentes entre cliente e consumidor. Mas coitada da moça, ela até disse 'vai ter de esperar' em vez de 'vais ter de esperar'. Também não foi assim tão agressivo quanto isso. Eu confesso que não sou muito apreciador de grandes proximidades linguisticas, mas não faço uma tempestade por isso. E temos de convir que quando a proximidade de idades é grande até fica estranho estarmos a ser tratados por Senhor. E se, com o tratamento casual, não existir desrespeito, nao vejo o mal. É tudo uma questão cultural. Mas afinal o nosso país é a terra dos doutores e engenehiros...

Um abraço
Pedro

Momentos disse...

E porque não, simplesmente, a funcionária ter-te identificado como pessoa jovem e descontraída, não merecedora de excesso de zelo?

AEnima disse...

Ola, voltei!

Eu acho que a maneira de vestir diz muito sobre a pessoa (roupa, justa, larga, toda preta, toda branco, fluorescente, grandes brincos, se sapatilhas, de tacao alto). Alias... acho que ate e uma forma de dizer ao mundo como nos sentimos hoje: - um dia com uma saia profissional justa e uns stilletos de 10 cms, outro de jeans e sapatilhas, outro de vestido comprido negro...

Mas sao estilos pessoais. Eu trabalhei numa empresa em que era (nao explicito) obrigatorio o uso de fato. E usava, era uma questao de respeito e enquadramento no ambiente. Ja nao aguentava os tacoes em 15 horas de trabalho por isso revolucionei la qdo usei sapatilhas com fato pela primeira vez (sim... nao eram aquelas nike espalhafatosas... eram catterpillar, discretas).

Claro que usar fato num ambiente de outro tipo de emprego nao faz sentido nenhum ser obrigatorio... so usa quem gosta de usar (como professores de universidade e coisas assim). Por acaso achava piada a uma secretaria la no ministerio que quando me viu a primeira vez disse: os academicos bem que podem disfarcar e vir de fato, mas a mochila as costas com o computador nao engana ninguem! eheheh realmente... os corporate usam malinha de cabedal, de facto.

Eh uma questao de estilos. Desde que te sintas confortavel no teu meio, acho optimo que sejas capaz de te expressar, tambem pelo modo de vestir e te apresentar, a personalidade que tens.

Beijokinhas

Manuel disse...

Ora bem...não há duvidas da adequação do traje a determinados contextos. Era impensável um bancario, no atendimento ao publico, de t-shirt preta dos marylin-mason, calções e sandálias!...ok, é um exemplo de extremos.
Eu nunca frequentei aquela pós-graduação da Paula Bobone na Universidade Lusofona de Etiqueta e Eventos Sociais, mas existem determinadas regras, que independentemente do traje com que as pessoas se apresentam, especialmente no atendimento ao publico, que assim se fazem obrigar. Embora não me tivesse incomodado o facto da moça me ter chamado simplesmente "Manel", nunca me passaria pela cabeça fazê-lo. Independente seja Profesor Doutor, Dr, Mestre, professor, Engº, Arquitecto, existe sempre a palavra "Sr", que fica bem em qualquer contexto. Nós não temos nada escrito na testa e as pessoas não podem adivinhar - a não ser que paguemos com o cartão gold e aí conste aqueles prefixos que tanta gente gosta...aquela minha amiga tem!...eu não, prefiro surpreender as pessoas quando me perguntam o que faço. A roupa nem sempre desvenda o que somos. Prefiro pensar que a roupa é o nosso disfarce que nos torna simultaneamente iguais aos outros e tão diferentes ao mesmo tempo. A roupa é a nossa bolha de sobrevivência.

Anónimo disse...

Parece-me que nem regras de boa educação ela tinha. Quanto a essa amiga, melhor nem comentar!

AEnima disse...

Bem... vestir para disfarcar tb diz algo da pessoa, nao?

E nao concordo com o "senhor" ficar sempre bem, porque acho sexista. Se chamas um desconhecido por senhor, como chamas as pessoas de sexo feminino? "Senhora" e um termo muito parolo e soa muito mal... "Dona" soa a dondoca dona de casa... doutora/professora/etc eh atribuir um titulo onde tal nao eh requisitado.

Tinha um professor que tratava todos os homens por "senhor" e ultimo nome... e todas as mulheres pelo primeiro nome. Segundo ele eram assim as regras da etiqueta e bons costumes. Eu seria a "Maria" e tu o "Senhor Matos" (se fosse esse o teu apelido). Aquilo caiu mesmo muito mal. Mas ate enquadrava com o perfil fascista (assumido, nao fui eu que lhe pus nomes) dele.

Eu gosto de me vestir conforme a ocasiao e tambem trato as pessoas formal ou informalmente conforme o ambiente em que estou inserido com elas. Mas fiquei muito mal disposta tambem quando uma vez o meu patrao repreendeu a minha secretaria, que ainda por cima era 20 anos mais velha que eu, por ela se ter dirigido a mim ah frente dele pelo meu primeiro nome e nao por um "doutora" ah frente. Ate aceito que a secretaria dele me chama-se de "dra aenima", mas a minha, que tantos seroes a obriguei a fazer comigo e chegar tarde para dar o jantar ao filho... uma pessoa impecavel com quem me dava extremamente bem ser repreendida por me tratar pelo primeiro nome, nao gostei, nao gostei mesmo nada!

hum... acho que me vou, senao ainda te zangas comigo... e eu nao estou a dizer coisas por mal. Beijinho e gracias teres aparecido la na redaccao.

Manuel disse...

Eu trato os meus alunos por senhores (e senhoras) em contexto publico de sala de aula...na proximidade trato-lhes pelo nome prórpio e sempre na terceira pessoa...hummm...e não sou fascista....LOL

AEnima disse...

Eu nao trato os meus alunos na sala de aula por senhor(a). Nem sequer me dirigo a eles na terceira pessoa, de um modo geral. Adopto estar na sala de aula de um modo mais informal e costumo trata-los na segunda pessoa (confesso que tenho muitas dificuldades de decorar nomes e o numero de alunos nas minhas salas de aulas facilmente ultrapassa a centena).

A nossa diferenca de idades nao eh muita de facto, e nao me considero superior a eles em nada. Sei mais sobre a materia que estou a leccionar, pois essa eh a minha funcao, o meu trabalho, e o que gosto de fazer - ensinar, partilhar conhecimento.

Os proprios alunos frequentemente adoptam a 2a pessoa para se dirigirem a mim, ou o meu primeiro nome, o que sinceramente me agrada.

Nao posso dizer que gostei mais dos professores que mantinham uma relacao mais proxima com os alunos do que os mais formais. Em geral gostei dos professores pelo seu caracter, conhecimento e capacidade de leccionar.

Acho que os meus alunos gostam de mim porque sou uma pessoa capaz, conhecedora do que faco e transmito e extremamente justa nas correccoes e classificacoes - sao estes os pontos fortes que me costumam apontar nas folhas de classificacao dos docentes. Dizem tambem que sou uma pessoa simpatica e bem disposta, mas nunca se referiram ao modo formal ou informal com que lhes trato nem como um ponto a favor, nem como uma falha ou coisa menos agradavel em mim. Eh o que prentendo. Eu sinto-me bem assim e desde que eles se sintam bem tambem - objectivo atingido.

Outros professores criticam-me por dar muitas "cunfias". No entanto vejo eles terem problemas de disciplina na sala de aula e eu nunca tive. Nunca me faltaram ao respeito, nunca fizeram uma bangunca total de barulho que impedem o professor de falar, nada. O que me parece eh que, se estivermos a falar convictamente que o assunto eh interessante e conseguirmos passar essa ideia, entao eles prestam atencao para nos ouvir. Nao tem nada a ver com "respeito" nem com formalidade.

Beijocas

Manuel disse...

Estilos de ensino e formas de estar diferentes. Metodologias sociais activas de facto, nunca tive problemas de indisciplina, aliás não sei o que isso é. Os meus alunos estão ali porque querem, e são todos maiores de idade. Razão pela qual trato-os na terceira pessoa, tenho inclusivamente alunos bem mais velhos que eu...
BJS