terça-feira, setembro 05, 2006

"Não posso dizer que te amo porque estamos na rua..."


Numa noite deste fim de semana, saí à rua à noite para saciar as necessidades fisiológicas do meu fiel companheiro. De referir que o lugar onde moro existe a possibilidade de se encontrarem muitos lugares de estacionamento, pelo que eu já me apercebi que se tornou num ponto de encontro de gente, para depois seguirem num só carro. Num destes passeios vi ao longe um carro a estacionar, pelo que os seus ocupantes, que eram dois homens jovens, não se aperceberam da minha presença, pois encontrava-me atrás a cerca de 20 metros de distancia e a caminhar pausadamente nessa direcção. O que se encontrava no lugar de acompanhante saiu do carro, dirigiu-se e entrou na viatura que se encontrava à frente. Muito apressadamente o condutor saiu do primeiro carro, eu que já me encontrava a cerca de 5 metros, e disse num tom bem perceptível " 'môr...'môr " e de repente quando me vê diz..."Alexandre! Alexandre!".
Na altura agi como se não tivesse ouvido nada e consegui resistir à tentação de olhar para a cara deles. Pensei: "como conheço esse misto de sentimentos: de amor, de embaraço, de esconder, de ocultar..."
Podia ficar aqui a divagar sobre paixões escondidas, de amor proibidos...mas hoje I'm not in the mood...

O que desejei às vezes
Diante do teu olhar,
Diante da tua boca!

Quase que choro de pena
Medindo aquela ansiedade
Pela de hoje - que é tão pouca!

Tão pouca que nem existe!

De tudo quanto nós fomos,
Apenas sei que sou triste.


António Botto

3 comentários:

Luís disse...

Uma reflexão importante... se calhar merecia a pena ser desenvolvida. O artigo 13º da Constituição refere que "todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei." O art. 23º do Código do Trabalho refere que "o empregador não pode pratical qualquer discriminação, directa ou indirecta, baseada, nomeadamente, na ascendência, idade, sexo, orientação sexual, ..." As palavras estão escritas. O texto está preparado, foi aprovado e publicado. E as mentalidades? Estão preparadas?

Manuel disse...

Faz tudo parte de um tratado de hipocrisia instituido na nossa sociedade. Vamos pensando, inocentemente, que existe mais abertura a estes assuntos, que as pessoas estão mais abertas, mais disponíveis para a discussão...mas é tudo uma falsa segurança: não existe nada disso...como alguém uma vez disse: "Os Homens são todos iguais...mas uns são mais iguais que outros...". O que se passa, é que as próprias mentalidades que escreveram os artigos 13º da Constituição e o 23º do C.T., e as mentalidades que o aprovaram e publicaram não partilham esses enunciados...enfim...coisas de uma sociedade cujos valores maiores como a honestidade, o respeito, entre outros, se perdem e entrecruzam com o descartável e o ordinário.

Pedro Eleutério disse...

Gosto muito do modo como expões as situação e as tuas histórias. E o poema final assenta como mão na luva. Apesar da tristeza das palavras... nem todos os momentos da nossa vida são de sorriso estampado na cara.